domingo, 4 de maio de 2008

Maio


01 - Dia Mundial do Trabalhador
03 - Nascimento do geógrafo Milton Santos, que revolucionou a Geografia, dando-lhe um enfoque humanista
13 - Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo
13 - Nascimento do escritor pré-modernista Lima Barreto / 1881
13 - Dia dos Pretos Velhos
13 - Abolição da escravatura no Brasil / 1888
18 - Criação do Conselho Nacional de Mulheres Negras, no Rio de Janeiro / 1950
23 - Nascimento do poeta Carlos de Assumpção, autor do célebre poema Protesto
25 - Criação da Organização da Unidade Africana - OUA / 1963
25 - Dia da Libertação da África, promovido pela ONU / 1972

13 de maio - Dia dos Pretos Velhos

Os Pretos-Velhos representam a força, a resignação, a sabedoria, o amor e a caridade. Com seus cachimbos, fala pousada, tranqüilidade nos gestos, eles escutam e ajudam àqueles que necessitam, independente de sua cor, idade, sexo e religião.

PROTESTO


Mesmo que voltem as costas
Às minhas palavras de fogo
Não pararei de gritar
Não pararei
Não pararei de gritar
Senhores
Eu fui enviado ao mundo
Para protestar
Mentiras ouropéis nada
Nada me fará calar

Senhores
Atrás do muro da noite
Sem que ninguém o perceba
Muitos dos meus ancestrais
Já mortos há muito tempo
Reúnem-se em minha casa
E nos pomos a conversar
Sobre coisas amargas
Sobre grilhões e correntes
Que no passado eram visíveis
Sobre grilhões e correntes
Que no presente são invisíveis
Invisíveis mas existentes
Nos braços no pensamento
Nos passos nos sonhos na vida
De cada um dos que vivem
Juntos comigo enjeitados da Pátria

Senhores
O sangue dos meus avós
Que corre nas minhas veias
São gritos de rebeldia
Um dia talvez alguém perguntará
Comovido ante meu sofrimento
Quem é que está gritando
Quem é que lamenta assim
Quem é

E eu responderei
Sou eu irmão
Irmão tu me desconheces
Sou eu aquele que se tornara
Vítima dos homens
Sou eu aquele que sendo homem
Foi vendido pelos homens
Em leilões em praça pública
Que foi vendido ou trocado
Como instrumento qualquer
Sou eu aquele que plantou
Os canaviais e cafezais
E os regou com suor e sangue
Aquele que sustentou
Sobre os ombros negros e fortes
O progresso do país
O que sofrera mil torturas
O que chorara inutilmente
O que dera tudo o que tinha
E hoje em dia não tem nada
Mas hoje grito não é
Pelo que já se passou
Que se passou é passado
Meu coração já perdoou
Hoje grito meu irmão
É porque depois de tudo
A justiça não chegou
Sou eu quem grita sou eu
O enganado no passado
Preterido no presente
Sou eu quem grita sou eu
Sou eu meu irmão aquele
Que viveu na prisão
Que trabalhou na prisão
Que sofreu na prisão
Para que fosse construído
O alicerce da nação
O alicerce da nação
Tem as pedras dos meus braços
Tem a cal das minhas lágrimas
Por isso a nação é triste
É muito grande mas triste
E entre tanta gente triste
Irmão sou eu o mais triste
A minha história é contada
Com tintas de amargura

Um dia sob ovações e rosas de alegria
Jogaram-me de repente
Da prisão em que me achava
Para uma prisão mais ampla
Foi um cavalo de Tróia
A liberdade que me deram
Havia serpentes futuras
Sob o manto do entusiasmo
Um dia jogaram-me de repente
Como bagaços de cana
Como palhas de café
Como coisa imprestável
Que não servia mais pra nada
Um dia jogaram-me de repente
Nas sarjetas da rua do desamparo
Sob ovações e rosas de alegria

Sempre sonhara com a liberdade
Mas a liberdade que me deram
Foi mais ilusão que liberdade

Irmão sou eu quem grita
Eu tenho fortes razões
Irmão sou eu quem grita
Tenho mais necessidade
De gritar que de respirar

Mas irmão fica sabendo
Piedade não é o que eu quero
Piedade não me interessa
Os fracos pedem piedade
Eu quero coisa melhor
Eu não quero mais viver
No porão da sociedade
Não quero ser marginal
Quero entrar em toda parte
Quero ser bem recebido
Basta de humilhações
Minha alma já está cansada
Eu quero o sol que é de todos
Quero a vida que é de todos
Ou alcanço tudo o que eu quero
Ou gritarei a noite inteira
Como gritam os vulcões
Como gritam os vendavais
Como grita o mar
E nem a morte terá força
Para me fazer calar

(Carlos de Assumpção)
Lima Barreto (1881-1922)

Afonso Henrique de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881, filho de um tipógrafo e de uma professora, ambos mulatos. Optou inicialmente pela carreira de engenheiro, mas teve que abandonar o curso em 1902, para assumir a chefia e o sustento da família – órfão de mãe desde os sete anos, naquele ano via seu pai desenvolver uma enfermidade mental. A família mudou-se então para o subúrbio do Engenho de Dentro.
Trabalhou como amanuense concursado na Secretaria de Guerra, o que lhe deu relativa estabilidade financeira. Foi neste período que começou a escrever na imprensa carioca, colaborando com o Correio da Manhã, Jornal do Commercio, Gazeta da Tarde e Fon- Fon.
Funcionário público, cronista e romancista, Lima Barreto viveu intensamente sua condição de pobre e mestiço na sociedade carioca. Na secretaria onde trabalhou, sempre foi preterido em função de sua participação no julgamento que condenou militares, envolvidos no assassinato de uma estudante. Era vítima de preconceitos e experimentou todas as contradições do início do século, entregando-se à depressão e ao álcool. Esteve duas vezes internado no Hospício Nacional devido à bebida, em 1914 e 1919.
Lima Barreto foi visto pela crítica como sucessor de Machado de Assis. Pioneiro do romance social, sua obra é uma crônica autêntica dos subúrbios cariocas, retratando de um lado sua população pobre e oprimida e, de outro, o universo simbólico da classe dominante.Consciente de sua condição, refletia em suas obras o preconceito racial, a pobreza, a truculência militar e a hipocrisia que cercavam as relações da sociedade republicana no início do século. Candidatou-se à Academia Brasileira de Letras sem sucesso. Na primeira vez, seu pedido não foi sequer considerado. Na segunda, não conseguiu ser eleito. Posteriormente, recebeu menção honrosa da Academia, pela publicação da obra Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, em 1919.
Militou na imprensa socialista, publicando um manifesto em defesa do comunismo no semanário alternativo ABC. Entre suas principais obras estão Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915) e Clara do Anjos, esta publicada postumamente, em 1948.
Foi aposentado em dezembro de 1918, em função de sua doença. Mudou-se com a família para Todos os Santos, onde morou até morrer de colapso cardíaco, em 1° de novembro de 1922.
Em 1956, sob a direção de Francisco de Assis Barbosa, com a colaboração de Antônio Houaiss e M. Cavalcanti Proença, toda a obra de Lima Barreto foi publicada em 17 volumes. Nas décadas seguintes, seus livros foram traduzidos para o inglês, francês, russo, espanhol, tcheco, japonês e alemão, e foram tema de teses de doutorado nos Estados Unidos e na Alemanha.
Para saber mais:www.cervantesvirtual.com/portal/FBN/biografias/lima_barreto/index.shtml Lopes, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora africana. SP: Selo Negro, 2004Resende, Beatriz. Lima Barreto e o Rio de Janeiro em fragmentos. R.J./S.P.,Editora UFRJ/Editora UNICAMP, 1993
Referências bibliográficas:
Prado, Antônio Arnoni. Lima Barreto: Literatura Comentada. Nova Cultural, 1988
Obras do autor:
RomancesRecordações do escrivão Isaías Caminha (1909); Triste fim de Policarpo Quaresma (1915); Numa e a ninfa (1915); Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919); Clara dos Anjos (1948).
SátiraOs bruzundangas (1923); Coisas do Reino do Jambom (1953).
ContoHistórias e sonhos (1920); Outras histórias e Contos argelinos (1952).
Artigos e crônicasBagatelas (1923); Feiras e mafuás (1953); Marginália 1953; Vida urbana (1953).
OutrosDiário íntimo (memória) (1953); O cemitério dos vivos (memória) (1953); Impressões de leitura (crítica) (1956); Correspondência ativa e passiva (1956).
Intérprete: Joel Rufino - RJ
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Milton Santos (1926-2001)

Milton Santos é considerado o maior geógrafo brasileiro. Recebeu mais de 20 títulos de doutor honoris causa, escreveu mais de 40 livros e cerca de 300 artigos científicos. Lecionou nas mais conceituadas universidades da Europa e das Américas e foi o único estudioso fora do mundo anglo-saxão a receber a mais alta premiação internacional em sua especialidade, o Prêmio Vautrin Lud (1994), considerado o Nobel da Geografia. Milton Santos também foi o primeiro negro a obter o título de professor-emérito da Universidade de São Paulo.
Acompanhou o presidente Jânio Quadros em viagem a Cuba, como jornalista, e foi nomeado representante da Casa Civil na Bahia. Na época do golpe de 64, foi despedido da Universidade Federal da Bahia e passou três meses preso em um quartel de Salvador. As agressões físicas sofridas na ocasião quase lhe custaram um olho. Só foi libertado após um princípio de infarto.
Em exílio voluntário, partiu para o exterior a convite de amigos franceses. Por 13 anos lecionou na França, Canadá, Reino Unido, Peru, Venezuela, Tanzânia e Estados Unidos. Retornou ao Brasil em 1977.
Milton foi consultor da Organização das Nações Unidas, da Unesco, da Organização Internacional do Trabalho e da Organização dos Estados Americanos. Também foi consultor em várias áreas junto aos governos da Argélia, Guiné-Bissau e Venezuela. Fez pesquisas e conferências em mais de 20 países, como Japão, México, Índia, Tunísia, Benin, Gana, Espanha e Cuba, entre outros.
Esquerdista convicto, criticava o caráter desumano das práticas globalizantes do capitalismo. Afirmava que o mercado não resolve tudo e via na população pobre o ator social capaz de promover uma outra globalização, fundamentada em princípios mais solidários.
Consciente da situação do negro na sociedade brasileira, analisava com acuidade quando dizia: “tenho instrução superior, creio ser personalidade forte, mas não sou um cidadão integral deste país. O meu caso é como o de todos os negros brasileiros, exceto quando apontado como exceção. E ser apontado como exceção, além de ser constrangedor para aquele que o é, constitui algo de momentâneo, impermanente, resultado de uma integração casual."
Morreu aos 75 anos, no dia 24 de junho de 2001, na cidade de São Paulo, em decorrência de um câncer de próstata diagnosticado em 1994. Seu último livro, escrito com a professora Maria Laura Silveira, foi publicado em 2001 com o título de O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Na ocasião do lançamento, Milton afirmou que considerava essa obra a síntese de suas idéias.
Para saber mais:www.campinas.sp.gov.br/portal_milton_santos
Referências bibliográficas
Algumas obras de Milton Santos:
O povoamento da Bahia: suas causas econômicas, Imprensa Oficial da Bahia, Salvador/BA, 1948. Os estudos regionais e o futuro da geografia, Imprensa Oficial da Bahia, Salvador/BA, 1953. A cidade nos países subdesenvolvidos, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1965. Por uma geografia nova, HUCITEC-EDUSP, São Paulo, 1978 (5ª edição: 1996). O trabalho do geógrafo no Terceiro Mundo, HUCITEC, AGB, São Paulo, 1978 (4ª edição: 1996).A pobreza urbana, Coleção Estudos Urbanos, HUCITEC-UFPE, São Paulo, 1978 (2ª edição: 1979). O espaço dividido, Livraria Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1978. Economia espacial: críticas e alternativas, HUCITEC, São Paulo, 1978. Espaço e sociedade. Editora Vozes, Petrópolis, 1979 (2ª edição: 1982). A urbanização desigual, Editora Vozes, Petrópolis, 1980 (2ª edição: 1982). Manual de geografia urbana, HUCITEC, São Paulo, 1981 (2ª edição: 1989). Pensando o espaço do homem, HUCITEC, São Paulo, 1982, (3ª edição: 1991)Ensaios sobre a urbanização latino-americana, HUCITEC, São Paulo, 1982 (2ª edição : 1986)O Espaço do Cidadão, Nobel, São Paulo, 1987, (3ª edição: 1996, 4ª edição: 1997). Metamorfoses do Espaço Habitado, HUCITEC, São Paulo, 1988, (5ª edição: 1997). Metrópole corporativa fragmentada: o caso de São Paulo, Nobel, São Paulo, 1990. A Urbanização Brasileira, Hucitec, São Paulo, 1993, (3ª edição: 1996). Por uma economia política da Cidade, Hucitec - Editora PUC-SP, São Paulo, 1994. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e meio técnico-científico informacional, Hucitec, São Paulo, 1994. (2ª edição: 1996) A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. Hucitec, São Paulo, 1996. (2ª edição: 1997)
Intérprete: Kabengele- SP
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